O objeto desta pesquisa é o universo discursivo da comunidade em torno da Banda de Congo Amores da Lua, da cidade de Vitória. Buscaremos resgatar e entender a sofisticada visão de mundo do grupo, que podemos encontrar na fala cotidiana, nas histórias, lendas e testemunhos, e nas letras das músicas, além de um calendário próprio. A partir do registro destes discursos, será feita a análise, à luz dos estudos acerca da alteridade e das teorias de crítica cultural. Efetuaremos o registro (por meio do audiovisual e da transcrição) das atividades e narrativas desta comunidade congueira, e proporemos uma análise crítica dos dados coletados.

Partindo do referencial teórico de Foucault, acerca do conceito de alteridade, identificaremos e analisaremos como os saberes compartilhados pelo grupo constroem um universo de referências próprias, à margem das experiências urbanas da modernidade. Os conceitos de Walter Benjamin guiarão a coleta e análise das práticas cotidianas e dos rituais, a partir dos conceitos de objeto, de objeto onirokitsch, de arte não-aurática, e de iluminação profana.

A primeira etapa do estudo foi a transcrição das letras cantadas pelo congo Amores da Lua e suas variações, de modo que um corpus poderá ser estudado, catalogando-se as diferentes funções das toadas e interpretando-as a partir de conceitos benjaminianos. Apresentei diversos trabalhos acadêmicos sobre o universo narrativo do congo, e análises das toadas e seus temas. A formatação de um livro de toadas está em andamento, assim como a formatação de um folheto com toadas, a história da banda e o projeto de pesquisa, para ser utilizado em oficinas.

O congo obedece a um calendário próprio que, misturado às suas lendas, produz uma visão particular do correr do tempo. O calendário dos festejos marcam as festas principais do congo. Na Banda de Congo Amores da Lua os festejos se subdividem em: Cortada, dia de Nossa Senhora da Conceição, 8 de dezembro; a procissão católica de São Benedito, na véspera de Natal, dia 24; a Puxada do Navio e Fincada do Mastro, no dia de Natal, 25 de dezembro; e a Derrubada do Mastro, no Domingo de Páscoa. Há anida as datas tradicionais e festas dos santos como o Santo Antônio, São Pedro, São Sebastião, entre outros.

O terceiro núcleo da pesquisa é o registro dos relatos de testemunho e das histórias de família, que deverão ser registrados em vídeo, e analisados pelas perspectivas teóricas pertinentes. Foram registrados vários vídeos e depoimentos. Este material foi utilizado tanto para a produção de artigos científicos sobre a pesquisa, como para a transcrição de relatos de mestres.

Após a realização da primeira edição do Colóquio sobre o Congo do Espírito Santo no PPGA/UFES, foi constatada a importância deste evento, assim realizamos em 2017 a segunda edição e programamos para 2018 a terceira. Além de reunir o trabalho de pesquisa de acadêmicos e membros de bandas de congo, o colóquio registrou a fala dos mestres convidados para a transcrição. Deste modo cria-se, pela primeira vez na literatura crítica sobre o congo, relatos escritos de mestres tradicionais do congo em primeira mão. Este material reunido será uma grande e importante bibliografia de consulta sobre a cultura congueira.

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